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Processadores ARM – ameça à Intel

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Abaixo, transcrição de interessante reportagem do Wall Street Journal, narrando o crescimento da ARM, empresa que produz os processadores do iPad, iPhone e diversos outros smartphones.

É uma empresa que está mudando o mundo, impulsionando a atual revolução da informática que permite a qualquer um carregar no bolso gráficos sofisticados, jogos mais velozes e aplicativos impressionantes. E você nunca ouviu falar dela.

A empresa se chama ARM Holdings PLC, uma firma britânica de projeto de microprocessadores fundada há 21 anos num galpão de criação de perus. Embora ainda seja relativamente pequena, a ARM está transformando o negócio de microchips e se tornou talvez a ameaça mais perigosa que já existiu para a gigante Intel Corp.

Os microchips da ARM se tornaram o padrão mais popular para celulares e tablets e podem ser encontrados em centenas de milhões de outros aparelhos, de câmeras digitais a discos rígidos. Sua participação do mercado de celular é de mais de 90% e sua ação mais que triplicou nos últimos 15 meses.

O prestígio crescente da ARM – e a ameça que representa à Intel – ficou evidente em 2 de março, quando o diretor-presidente da Apple Inc., Steve Jobs, apresentou o iPad 2 para jornalistas e entusiastas. Ele enfatizou como o processador do tablet – baseado na tecnologia da ARM – é duas vezes mais rápido que o anterior, mesmo assim mantendo a duração da bateria em impressionantes dez horas.

“Sem a ARM, seria preciso um aparelho do tamanho de um computador para realizar o que os smartphones em nossos bolsos já são capazes hoje em dia”, disse o analista Francis Sideco, da firma de pesquisa IHS iSuppli.

A duração da bateria é crucial. É por isso que a arquitetura da ARM domina o mercado de celular. Os processadores potentes da Intel são mais velozes, o que os torna ideais para uso em computadores. Mas, se comparados aos da ARM, eles consomem eletricidade demais, o que os torna inadequados para aparelhos movidos a bateria.

A Intel ainda domina nos PCs e servidores. Mas o verdadeiro crescimento do mercado está nos celulares. A firma de pesquisa de mercado Gartner prevê que as vendas de smartphones vão aumentar quase 40% este ano. Até o fim do ano, ela prevê que serão vendidos mais de 413 milhões de smartphones, ultrapassando o total mundial de PCs. E também há o iPad, que já começou a roubar fatias de mercado no segmento de notebooks mais baratos e corroer o potencial de crescimento da Intel.

Por isso, embora a Intel fature alto fabricando processadores para PCs, os investidores continuam pouco entusiasmados com a empresa. A ação dela está na mesma cotação de 1997.

A agora onipresente tecnologia de microchips da ARM na verdade nasceu no início dos anos 80. Engenheiros da britânica Acorn Computers queriam criar na época um processador melhor para o computador BBC Micro que a empresa fabricava. Um dos fundadores da Acorn, Hermann Hauser, lembra que tomou duas decisões cruciais quando aprovou o projeto para desenhar um novo chip. “Eu não podia oferecer pessoal nem dinheiro. Não tinha como eles me aparecerem com um chip complexo.”

Uma pequena equipe desenvolveu um microprocessador simples com impressionantes baixo consumo de eletricidade, desempenho sólido e tamanho diminuto. Mas o computador criado para ele chegou tarde demais. Quando lançado, em 1987, os PCs da IBM já dominavam o mercado empresarial. A Acorn “quase faliu”, lembra o presidente da ARM, Tudor Brown. Mas a tecnologia foi salva por um dos fracassos mais famosos do mundo da tecnologia.

Era 1990 e a Apple queria um processador para sua nova agenda eletrônica, o Newton. Ela criou uma sociedade com a Acorn que depois foi chamada ARM Holdings. A Apple aplicou US$ 1,5 milhão nela, segundo Hauser. A Acorn colaborou com sua equipe de 12 projetistas de microchips.

Bem à moda de empresas iniciantes de tecnologia, a primeira sede da ARM, perto de Cambridge, na Inglaterra, foi um galpão de perus convertido. A Acorn acabou morrendo, mas a ARM prosperou. A Apple lucrou US$ 800 milhões com seu investimento.

No início, a ARM tomou uma importante decisão empresarial: em vez de produzir seus próprios processadores, ela licenciaria sua tecnologia para os outros. Em essência, a ARM tinha conseguido projetar um excelente cérebro de chip – e preferiu vender seus planos para outras empresas que poderiam criar “sistemas de chip” completos para eles. Esses processadores acabaram dominando o mercado de celular porque integram várias funções num único chip, possibilitando a existência de aparelhos com alta capacidade de processamento.

Hoje em dia empresas como Texas Instruments, Qualcomm Inc., Samsung Electronics Co. e outras já usam a arquitetura da ARM, pagando pequenos royalties e taxas de licenciamento pelo privilégio. É um negócio altamente lucrativo – com margem bruta de 94%, comparada aos 65% obtidos pela Intel ano passado.

O modelo empresarial da ARM conseguiu fomentar uma comunidade de programadores, fabricantes de processadores e de aparelhos. A ARM tinha 30 licenciados que venderam 51 milhões de chips em 1998. Em 2010, o número tinha subido para 250 licenciados e 6,1 bilhões de chips.

A Intel quer entrar no mercado de smartphones e planeja lançar um chip este ano que ela afirma que vai conseguir competir com os processadores da ARM em consumo de eletricidade e desempenho.

“O que está acontecendo no mercado de celular é que todos esses aparelhos estão se tornando computadores e exigindo chips cada vez mais poderosos”, diz Kevin Sellers, diretor financeiro e de relações com investidores da Intel. “Desempenho é o nosso forte.”

Mas, mesmo que a Intel consiga um chip comparável, a empresa deve enfrentar problemas para entrar no mercado de celular. Os fabricantes dos aparelhos podem forçar a concorrência entre os possíveis fornecedores de chips ARM, mantendo o custo baixo. Outro obstáculo, que pode ser ainda maior, seria convencer os criadores de software para celular a usar códigos compatíveis com a Intel.

A Intel também conta com muito mais recursos. O modelo empresarial que permitiu à ARM florescer também implica que a empresa continuará sendo relativamente pequena. A ARM recebe um royalty de apenas US$ 0,05 por chip. Seu faturamento em 2010 foi de apenas US$ 631 milhões. O da Intel foi de quase US$ 44 bilhões.

Talvez o maior desafio da ARM seja atender às expectativas extremamente otimistas dos investidores. Sua ação vale mais de 70 vezes a previsão de lucro por ação em 2011. A da Intel vale 10 vezes.

A ARM ganhou um impulso em janeiro, quando a Microsoft Corp. anunciou que a próxima versão do sistema operacional Windows será compatível com os chips dela. Isso significa que eles também terão melhores chances de entrar nos PCs.

O irônico disso tudo é que a Intel poderia ter evitado esses problemas. Hauser lembra que antes de projetar seu próprio chip a Acorn pediu autorização para usar a tecnologia da Intel. “Eles disseram ‘esqueça’”, lembra Hauser. “Se tivessem dado [o chip] para a gente, nunca teríamos criado a ARM.”


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